A discussão de ontem, sobre a maratona de 12 quilômetros, rendeu. Sérgio Xavier, em seu post de hoje no blog Correria, convida seus leitores a participar dela, perguntando onde está o “muro”, a barreira pessoal de cada um deles.
Eu disse ontem aqui que na volta de um treino de meu circuito Lapa-Pico do Jaraguá-Lapa pretendia quem sabe esticar até a USP, atropelando pelo menos 35K. Não deu pra passar do Bar do Gago, na Vila Anastácio, quando o Garmin acusou 30K.
E então fui falar com o professô. Mario Sergio Silva, dono da Run & Fun, explica o porquê de as coisas ficarem um pouco mais complicadas depois do quilômetro 30.
JQC – Existem as tais duas maratonas de que se fala, a verdadeira começando no 30K?
Mario Sergio Silva – Sim, é uma grande verdade. Até o 30K está todo mundo feliz, ou, se nem tanto, é a partir desse momento que a gente começa a ver no rosto e na performance do corredor sinais de que a coisa começa a complicar. Nessa hora a gente depleta nosso glicogênio, e o desgaste só aumenta com o passar do tempo. Você pode comer o que quiser antes da corrida, mas se não houver reposição nas duas primeiras horas da prova, não tem de onde tirar. A reposição de carboidrato é fundamental. (Leia mais sobre reposição aqui)
JQC – Mas há um componente psicológico também, imagino. Não sei, no meu caso, quem estava mais cansado no domingo, se meu corpo ou minha cabeça.
Silva – Nós falamos aqui em três aspectos. O fisiológico (acima), o tático, que é a definição da estratégia na corrida, e o psicológico. Definir a estratégia é muito importante, pois se o corredor faz um ritmo mais forte no começo acumula ácido lático além do suportável. É aí que a gente vê aquelas cenas nas provas de maratona, pessoas andando, cambaleando. Além disso, normalmente não conseguimos repor líquido na mesma quantidade da perda. Estima-se que um corredor produz 1 litro de suor por hora, mas só consegue repor 600ml nesse tempo.
JQC – Quanto ao psicológico…
Silva – A questão é que a partir do 30, do 32K, o corredor entra numa zona desconhecida. Nos treinos nunca se passa dos 35K, para não desgastar demais o corpo de quem se prepara para a maratona.
JQC – A partir de que momento deve ser feita a reposição de carboidrato?
Silva – Segundo padrões da “American College”, a cada 40 minutos. Dá para usar gel, batata, uva passa, isotônico, pílula de sal. Como em geral o suplemento de carboidrato e o isotônico são doces, no 35K gostamos de dar algo salgado para o corredor, como uma batata. Isotônicos são bons pois também repõem os sais minerais perdidos.
JQC - Se todos os corredores vão encontrar uma barreira fisiológica no 30, 32K, como é possível correr uma ultramaratona?
Silva – Eu acho que a grande maioria das pessoas que correm ultramaratona está apenas correndo riscos desnecessários. É preciso ter um biótipo apropriado, mais forte, para aguentar. Perna mais forte, estrutura mais forte e (um aspecto) psicológico monstro. Mas a maior parte das pessoas que faz ultra não pensa no dia seguinte e paga muito caro com lesões. Acho que o pessoal transfere para a corrida uma necessidade de autoafirmação. Quanto à barreira fisiológica, há maneiras de driblá-la no treino. Os atletas fazem bem menos ritmo, treinam para suportar distâncias, já preparam o corpo para repor as perdas que terão ao correr seis, sete horas. Mas depois dos 60K não há biótipo que aguente.
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